Cabisbaixo, o gajo da flor entrou na praça. O mundo parecia mais pequeno que antes, embora pouco tivesse mudado. Além, o puto diamante dava um seminário motivacional, fazendo cross-promotion com a nova versão das bimbas, agora com sopas tão aveludadas que os bebés não as conseguiam distinguir de leite materno em ensaios controlados duplamente cegos. Os bebés de calcário mantinham o seu débito urinário constante, como crianças numa área de serviço quando os pais estão atrasados para o jantar de família. ...
As aventuras do gajo da flor 6
O bazar em que o gajo da flor se encontrava arrancou-o da marítima realidade de Belruf, deitando-o de volta em casa. Aos cheiros do trabalho em metal e do trabalhador de metal, imiscuia-se um discreto mofo, perdão, bafio, típico da casa da avó cujo neto devia ter visitado mas está sempre demasiado ocupado para o fazer. As paredes da loja de lantejoulas encontravam-se forradas de tecidos lustrosos de diferentes cores, contrastando com as parcas lantejoulas que lá pendiam. Onde outrora o cenário seria de opulência numa rave dos anos sessenta, hoje era de um acenar a memórias passadas. Mas um acenar de quem não tem a certeza que viu alguém conhecido e está a tentar disfarçar ou pelo menos ter alguma hipótese de alegar mais tarde que estava a afastar um bolo de noz. ...
As aventuras do gajo da flor 5
Por hora incerta o gajo da flor finalmente chegou à praça central, encontrando, como esperado, uma fonte em que pequenas crianças com asas pigmentadas por dejectos de gaivotas urinavam perpetuamente na piscina que lhes banhavam os pés. Era uma cena que o fez reflectir nas dificuldades da vida de cada um, nomeadamente nas dificuldades em conter xixi quando se está dentro de uma piscina, mas sabendo que são esses mesmos resíduos onde se vai nadar a seguir. O caso estava mais que decidido na sua terra e pela arquitectura Belrufiana, era indicativo de ter cuidado nos banhos públicos. O sol iluminava a praça homogeneamente, não projectando sombra alguma. Os edifícios de volta da praça eram iluminados em tons amarelados, as lojas não tinham toldos, preferindo o sol salientando os seus produtos, maioritariamente peixe, conchas e títulos do tesouro. Apenas uma loja não tinha bancadas à porta, a janela coberta com cortinas de tecido. Certamente que seria a loja indicada pelo capitão estrela. No entanto a sede apoderava-se dele, e o pénis dos pequenos anjos tornou-se apetecível. Sentou-se à beira da fonte, chegando o mais perto possível de onde ela jorrava, tomando o cuidado de não fazer do documentário do autor inapropriado para audiências mais jovens. ...
As aventuras do gajo da flor 4
A cidade do porto de Belruf abraçou o gajo da flor nos primeiros instantes. Era um aglomerado de habitações de dois andares, com ruas apertadas como as partes baixas de uma virgem e labirínticas como os pensamentos de romance de uma prostituta. Encostados às paredes encontravam-se ocasionalmente pedintes, vendendo pensos rápidos e cubos knorr, emanando um odor mais nauseabundo que os marinheiros, pela total ausência de água nas zonas cutâneas desde a ruptura da bolsa na barriga da mãe. No entanto o rumo nunca se perdia em Belruf, auxiliado intermitentemente pela estrela guia que era o obelisco ou silo de gramíneas do centro da cidade, apenas obscurecido por um transeunte encapuçado que saltava de telhado em telhado. ...
As aventuras do gajo da flor 3
O gajo da flor dirigia-se agora determinado a chegar ao homem das lantejoulas sem novas pausas para ingerir omeletes. Atravessava presentemente um campo verdejante entre o porto e a cidade, discretamente livre de civilização, apenas uma casa de colmo aqui e ali, um aldeão que o cruzava na estrada de terra batida a intervalos de dez minutos e o esporádico pato chinês. Todo este mundo lhe parecia encantado, como a vida da noite parece mágica ao universitário, um misto de cores vivas e bebidas transparentes. O pensamento fê-lo considerar que devia ter um alguidar à mão, não fosse o caso de todo o entusiasmo lhe dar também a volta ao estômago. ...
As aventuras do gajo da flor 2
As roupas do gajo da flor enxugaram depressa no sol do porto, agora dava-se por contente por ter trazido calças de ganga em vez de ter roubado as calças de yoga da irmã. A durabilidade do tecido em condições adversas jogaria a seu favor no longo prazo, mesmo baixando o appeal perante a comunidade. Antes odiado e vestido do que amado mas com a genitália a esfregar-se contra as intempéries. ...
As aventuras do gajo da flor 1
Seria por volta do meio dia quando o barquinho do gajo da flor chegou ao porto de Belruf. O céu brilhava e as gaivotas circundavam os pescadores, untados de vísceras de fauna marinha. A paisagem olfativa complicava-se sobretudo pela total ausência de rinite, resultado da instilação de quantidades indústriais de água salgada pelas narinas nos últimos dias. Este não era o cenário que o gajo da flor esperava que o cumprimentasse no início das suas aventuras, no entanto, em território totalmente desconhecido, necessitava de obter alguma informação, um mapa, um pão de ló, algo que lhe desse algum sentido de orientação e um objectivo. Esse mesmo pensamento relembrou-lhe as advertências dos irmãos para não ir à aventura sem um objectivo definido, sem uma donzela para salvar ou um caminho bidimensional no qual tem que se terminar no fundo direito do ecrã. Com uma lágrima no olho e saudades de caril, o gajo da flor ajoelhou-se nas tábuas molhadas do porto enquanto gemia. ...